google.com, pub-8049697581559549, DIRECT, f08c47fec0942fa0 VIDA NATURAL: fevereiro 2018

ANUCIOS

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Cultivo de Hortaliças Orgânicas (Parte 3)



Além das recomendações gerais para o sucesso no cultivo de hortaliças orgânicas já abordadas em matérias recentes postadas neste blog (Parte I e II), trataremos a seguir de outras também muito importantes tais como, irrigação e inúmeras outras práticas culturais.

. Irrigação ou rega
  O cultivo de hortaliças sem complementação de água de boa qualidade, através da irrigação, é praticamente, impossível. As hortaliças, por terem ciclo curto, sofrem mais que outras espécies com pequenos períodos de estiagem. Embora ocorram precipitações pluviais mensais consideradas suficientes para desenvolvimento das hortaliças, essas são irregulares, especialmente no Sul do Brasil. Além disso, a maioria das hortaliças são exigentes, pois apresentam em sua composição mais de 85% de água.
  A qualidade da água é muito importante, pois grande parte das hortaliças são consumidas cruas. Caso não seja água potável, recomenda-se fazer a análise da mesma, mesmo sendo oriunda de uma fonte natural, pois pode estar contaminada com alto teor de coliformes fecais.
  A frequência, o tipo de irrigação e a quantidade de água a aplicar dependem basicamente da espécie cultivada, do tipo de solo, do clima, das práticas culturais e do estádio de desenvolvimento das plantas. 
O sistema de irrigação mais usado numa horta doméstica, comunitária ou escolar é através da aspersão. Havendo reservatório de água, pode-se utilizar mangueiras com jatos finos ou adaptadas a microaspersores. 
   O ideal é utilizar sistema de irrigação que produz gotas pequenas, formando uma espécie de neblina, evitando-se assim que, as plantinhas recém emergidas ou transplantadas sofram danos, além de evitar a formação de uma crosta endurecida no solo. Outra forma muito prática e barata de irrigar é através do sistema "santeno" (Figura 1) que consiste numa mangueira de plástico, perfurada com raios laser e resistente à exposição ao sol. A mangueira deverá ser conectada à uma mangueira comum e essa a uma torneira, produzindo uma neblina fina, resultando em irrigação ideal. Com essa mangueira, encontrada em lojas especializadas, deve-se evitar a irrigação quando houver ventos.


Figura 1. Microaspersão com a mangueira "santeno II": ideal para pequenas hortas, especialmente para hortaliças-folhosas e plantas no início de desenvolvimento

   Em geral, logo após a semeadura e o transplante são necessárias irrigações diárias tomando-se o cuidado de utilizar regadores ou mangueira com esguichos finos para não enterrar demais as sementes ou as mudas. A terra deve ser molhada até à profundidade em que se encontra a maioria das raízes. A maior parte das raízes das hortaliças em pleno desenvolvimento alcança a profundidade de 15-20 cm.
    Para hortaliças-folhosas é aconselhável irrigar diariamente, caso não chova, durante todo o ciclo das plantas para se obter folhas tenras.
   Para hortaliças-frutos, à medida que as plantas forem crescendo, a irrigação pode ser espaçada de três em três dias até o final da colheita, caso não chova o suficiente; o mesmo intervalo de irrigação pode ser utilizado para as hortaliças-raízes, dispensando-a quando já estiverem em condições de serem colhidas.
   Sempre que possível, para as espécies pertencentes à família das solanáceas, que têm maiores problemas de doenças, deve-se evitar que a folhagem das plantas passem a noite molhada, preferindo-se a irrigação pela manhã, quando o sistema for por aspersão. A irrigação por sulcos (Figura 2) e por gotejamento são ideais para essas espécies.


Figura 2. Irrigação por sulcos: método adequado para o tomateiro

   Uma indicação prática, aproximada, da necessidade de irrigação pode ser obtida quando um punhado de terra apertado na palma da mão formar um conjunto coeso e úmido ("bolo"), o que significa que ela apresenta boas condições de umidade. É importante após a irrigação, esperar um pouco para que a água se infiltre, observando-se, depois, a profundidade atingida pela mesma.

. Desbaste ou raleamento
   Consiste na eliminação do excesso de plantas semeadas diretamente no canteiro, nas covas e nos recipientes. Na semeadura direta em canteiro, recomenda-se o desbaste quando as plantinhas estiverem com 5 a 8cm de altura, deixando-se as mais vigorosas, no espaçamento adequado. Para algumas espécies, como a beterraba, pode-se aproveitar as melhores mudas descartadas durante o desbaste para transplantar em outro canteiro.

. Capinas e escarificações
  As plantas espontâneas competem com as espécies cultivadas por luz, água e nutrientes, especialmente nos primeiros 30 dias. Por isso, é muito importante a retirada das mesmas ainda pequenas com a enxada, sacho ou, manualmente. Após o período crítico, as plantas espontâneas nas entrelinhas são consideradas "plantas amigas" pois ajudam a manter a umidade no solo e evitam a erosão do solo.

  Cobertura do canteiro com papel (Figura 3): para retardar a emergência das plantas espontâneas, logo após a semeadura das hortaliças, recomenda-se após o preparo do canteiro, a cobertura com folhas de papel jornal (sem impressão colorida) ou papel pardo e sobre esse 2 cm de composto orgânico peneirado. Posteriormente, procede-se abertura do sulco, a semeadura e a cobertura das sementes.


Figura 3. Uso de jornal no manejo de plantas espontâneas (à esquerda, cenoura cultivada com jornal ; à direita, sem jornal )

   Mesmo que não haja plantas espontâneas, recomenda-se o uso de enxada ou sacho nas linhas de cultivo para escarificar (revolvimento superficial do solo), com objetivo de evitar a formação de crosta na superfície, especialmente após chuvas torrenciais. A camada de solo superficial endurecida, além de impedir a penetração da água da chuva ou da irrigação, favorece a erosão do solo. A escarificação deve ser feita quando as plantas estiverem no início do desenvolvimento vegetativo e com o solo úmido para não danificar as raízes. Quando as plantas espontâneas das entrelinhas estiverem competindo por luz com as plantas cultivadas, recomenda-se roçar com foice ou roçadeira manual, ou simplesmente tombá-las.
  A cobertura morta, prática de colocar capim ou palha seca nas entrelinhas, reduz a freqüência de capinas, escarificações e irrigação.

. Adubação de cobertura
  Em solos com baixa teor de matéria orgânica (menos de 2%) é muito importante essa prática, especialmente nas hortaliças folhosas. No entanto, deve-se evitar o uso exagerado de adubos nitrogenados tais como estercos de animais não curtidos, pois podem salinizar o solo e prejudicar a qualidade das hortaliças. Quando aplicados em excesso, podem causar a metahemoglobinemia em crianças, moléstia resultante da ingestão de nitritos (produzidos a partir de nitratos) que reagem com a hemoglobina, reduzindo a sua capacidade de carregar oxigênio. Além disso, os nitritos participam de reações formadoras de compostos cancerígenos.
   Recomenda-se como fonte de macronutrientes e micronutrientes o composto orgânico (ver como preparar o composto orgânico em matéria antiga postada neste blog), esterco de animais curtido, biofertilizantes caseiros, chorumes de estercos e de composto orgânico e outros produtos facilmente elaborados na propriedade.
Esterco de animais curtido
   O esterco proveniente de gado sobre pastagem onde se aplicou herbicidas não pode ser utilizado na produção de hortaliças. O esterco de aves, especialmente quando utilizado em excesso, têm efeito negativo sobre as características físicas do solo (desagrega e compacta). Por ter muito ácido úrico, têm um efeito semelhante a uréia, reduzindo a resistência das plantas e até queimando as mesmas (caso não esteja curtido), além de acidificar o solo. Deve ser utilizado em pequenas quantidades por aplicação e bem incorporado ao solo(no máximo 0,5 kg/m2 ).
Biofertilizantes/chorumes
   Como o nome já diz, é um fertilizante vivo, cheio de microorganismos, responsáveis pela decomposição da matéria orgânica, pela produção de gás e pela liberação de antibióticos e hormônios. Pode-se fazer biofertilizantes somente com esterco e água (chorume) ou ainda com qualquer tipo de material verde fermentado na água. Pode-se enriquecê-lo com alguns minerais (fosfato natural), com calcário e/ou cinzas, leite, caldo de cana ou melado. Os biofertilizantes são líquidos e podem ser usados no solo, com auxílio de regadores, ou em tratamentos foliares, utilizando-se o pulverizador, com objetivo de complementar a nutrição das plantas.
   O biofertilizante, além de alimentar, protege a planta agindo como defensivo. Esta "defesa" pode ser ocasionada por diversos fatores: a) Se a planta é bem nutrida, tem mais resistência e mais condições de se defender de algum ataque de insetos, fungos, bactérias, etc. b) Como o biofertilizante é um produto vivo, os microorganismos podem reduzirem a atuação do que está atacando a planta e repelir e/ou destruir ou paralisar a ação desses elementos.
   A seguir serão descritos o modo de elaborar alguns dos biofertilizantes mais simples, bem como a dosagem de uso dos mesmos. São os mais fáceis de elaborar, de baixo custo, que fornecem nitrogênio. São utilizados especialmente para fertilizar mudas em bandejas ou plantas recém transplantadas ou plântulas em estádios iniciais de crescimento, cujas raízes ainda não possuem bom desenvolvimento.
Chorume de composto orgânico

   Modo de preparar: deve-se deixá-lo secar à sombra e peneirá-lo. Deve ser colocado em saco permeável amarrando a boca do mesmo, para evitar entupimento do regador ou do pulverizador. O composto orgânico (33 l) deve ser colocado em um tonel de 200 l completando com 67 l de água. Sacudir bem o saco e deixar descansar por 10 minutos. Pode ser utilizado puro sobre as plantas ou no solo com regador ou pulverizador (Fonte: Souza, 2003).

Chorume de esterco fresco de animais
Modo de preparar: deve-se colocar no tonel de 200 l, um saco de esterco de aves ou de gado na proporção de 1:2 e 1:1, respectivamente, amarrando-se a boca e completando com água, deixando de molho por quatro a sete dias. É um adubo líquido fermentado. Para aplicação, deve-se diluí-lo em água utilizando-se um (esterco de aves) ou dois litros (esterco de gado) de chorume por regador, completando-se com água para regar o solo.

 Biofertilizante 1
   Modo de preparar: 1/3 de esterco fresco de gado para 2/3 de água, 5 kg de cinzas e 5 kg de fosfato natural para 200 l. Para melhorar a fermentação pode ser adicionado garapa, leite, melaço ou açúcar mascavo na quantidade de 1 a 5 kg ou litros. Deixar curtir uma semana e diluir na proporção de 1 litro de chorume para 10 l de água na hora de aplicar, o que deve ser feito na terra e não nas folhas, com mangueira ou regador, uma vez por mês e de preferência no final da tarde.
Biofertilizante 2 (uréia natural)

   Modo de preparar: colocar 40 kg de esterco de bovino fresco, 3 a 4 litros de leite fresco ou colostro,10 a 15 litros de caldo de cana ou 4 a 5 litros de melado, 200 litros de água e 4 kg de fosfato natural numa caixa de água, misturando-os bem. Deixar fermentar durante 15 dias, mexendo uma vez ao dia. Depois de pronto, diluir 1 litro do biofertilizante em 3 litros de água para regar a planta e o solo.
Obs.: essa receita após misturada em água, proporciona 800 litros de adubo líquido.
Água de cinza e cal (fertiprotetor de plantas): é um produto ecológico obtido pela mistura de água, cinza e cal (para preparar, ver matéria postada neste blog em 22/12/2010). Essa mistura contém expressivos teores de macro (Ca, Mg e K) e micronutrientes, atuando como adubo foliar em cobertura e estimulando a resistência das plantas às doenças fúngicas e bacterianas. (Fonte: Claro, 2001).
Manipueira: é um líquido de aspecto leitoso e de cor amarelo-claro que escorre de raízes carnosas da mandioca, por ocasião da prensagem das mesmas, para obtenção da fécula ou da farinha. É, portanto, um subproduto da mandioca que fisicamente se apresenta na forma de suspensão aquosa e, quimicamente, como uma miscelânea de compostos que podem servir como adubo antes da semeadura/plantio e em pulverizações foliares. Além de ser utilizada como inseticida, acaricida, nematicida, fungicida e bactericida, a manipueira contém todos os macro e micronutrientes, com exceção do molibdênio, necessários à nutrição das plantas.
   Na fertilização do solo, utilizar manipueira (1:1), aplicando na linha de cultivo, com auxílio de regador, 2 a 4 litros da diluição por metro de sulco. A aplicação deve ser antes da semeadura/plantio, devendo o solo ficar em repouso por oito ou mais dias e, posteriormente revolver levemente o solo que compõe e margeia a linha de cultivo, antes de proceder a semeadura/plantio. Na fertilização foliar, as diluições mais apropriadas são 1:6 e 1:8.

.Tutoramento ou estaqueamento é feito com bambu para algumas hortaliças como ervilha torta, tomate, feijão-de-vagem, pepino, maxixe, pimentão e chuchu, para evitar o crescimento em contato com a terra, facilitar a aeração e a insolação e evitar a quebra de ramos. No tutoramento tradicional do tomateiro é muito utilizado o sistema cruzado ou em "V" invertido que tem como desvantagem a formação de um túnel úmido que favorece a ocorrência de doenças foliares e de pragas e dificulta os tratamentos fitossanitários. Em função disso, o tutoramento vertical em que as plantas são conduzidas perpendicularmente ao solo, é o mais recomendado para o tomateiro (Figura 4), pois além de melhorar a distribuição solar e a aeração, aumenta a eficiência dos tratamentos fitossanitários através da pulverização dos dois lados das plantas.


Figura 4. Tutoramento vertical: sistema de condução de plantas mais indicado para o tomateiro


Figura 5. Tutoramento em ziguezague: sistema alternativo para o tomateiro que melhora a ventilação das plantas, facilita os tratos culturais e reduz a ocorrência de doenças


 Figura 6. Tutoramento na cultura do chuchu (sistema latada)

. Amarrio consiste em amarrar as plantas nas estacas, sem estrangular, para seu melhor apoio, prática indispensável para a cultura do tomate.

. Desbrota é a eliminação dos brotos que saem das axilas das folhas ou da haste de algumas espécies como o tomate.


Figura 7. Desbrota em tomateiro

. Amontoa (Figura 8) consiste em chegar terra junto às plantas, para melhorar sua fixação ao solo e, no caso da batata, serve ainda para evitar que os tubérculos se desenvolvam fora da terra, favorecendo o seu esverdeamento (Figura 9). Uma boa amontoa (cerca de 20cm de altura) reduz os danos de insetos que perfuram e depreciam os tubérculos.


Figura 8. Amontoa na cultura da batatinha


Figura 9. Batatas esverdeadas: resultado da amontoa inadequada








sábado, 17 de fevereiro de 2018

Cultivo de Hortaliças Orgânicas (Parte 2)



O cultivo de hortaliças no sistema de produção orgânico não é apenas trocar os insumos utilizados na agricultura dita "moderna" (adubos químicos e agrotóxicos) por outros permitidos na produção de alimentos orgânicos. Além das recomendações gerais para a produção orgânica de hortaliças, já postada neste blog (parte I), existem inúmeras outras práticas muito importantes. pois tratam o solo como um "organismo vivo". Um solo sadio produz plantas, animais e homens sadios; tudo está ligado entre si como os órgãos de um corpo, por isso o solo, já na antiguidade, era visto como um "organismo vivo". O solo faz parte do meio ambiente e está ligado a todos os seus outros componentes, como a água, as plantas, os animais e o homem. Tudo que acontece com o solo tem algum reflexo positivo ou negativo, no ambiente do qual ele faz parte. Dentre as práticas que favorecem a vida do solo e as plantas cultivadas, destacam-se a adubação orgânica e verde, plantio direto, cultivo mínimo, cobertura morta, rotação e consorciação de culturas, entre outras. Estas recomendações são essenciais para o sucesso do cultivo orgânico, pois conduzem à estabilidade do meio ambiente, ao uso equilibrado do solo, ao fornecimento ordenado de nutrientes e à manutenção de uma fertilidade real e duradoura no tempo.

. Adubação de semeadura/plantio
   O solo é o fator mais importante a ser considerado na produção orgânica de alimentos. O solo deve ser tratado como um organismo vivo que interage com a vegetação em todas as fases de seu ciclo de vida. Os aspectos físico, químico e biológico do solo são fundamentais para o sucesso na produção orgânica de hortaliças.
  O aspecto físico do solo refere-se à sua textura e a sua estrutura. A textura de um solo se relaciona ao tamanho das partículas que o formam; um solo possui diferentes quantidades de areia, argila, matéria orgânica, água, ar e minerais. A forma como esses componentes se organizam representa a estrutura do solo. Um solo bem estruturado deve ser fofo e poroso, permitindo a penetração da água e do ar, assim como de pequenos animais e raízes.
  O aspecto químico se relaciona com os nutrientes que vão ser utilizados pelas plantas. Esses nutrientes, dissolvidos na água do solo (solução), penetram pelas raízes das plantas. No sistema orgânico de produção, os nutrientes podem ser supridos através da adição de matéria orgânica e de compostos vegetais.
  O aspecto biológico trata dos organismos vivos existentes no solo e que atuam nos seus aspectos físicos e químicos. A vida no solo só é possível onde há disponibilidade de ar, água e de nutrientes. Um solo com presença de organismos vivos indica boas condições de estrutura.     
  Os microorganismos do solo são os principais agentes de transformação química dos nutrientes, tornando-os disponíveis para absorção pelas raízes das plantas.
A planta necessita, além de carbono, hidrogênio e oxigênio, de constituintes essenciais retirados do ar e da água, dos seguintes elementos:
. Macroelementos - nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S), exigidos em maior quantidade.
   O nitrogênio auxilia na formação da folhagem e favorece o rápido crescimento da planta. O fósforo estimula o crescimento e formação das raízes. O potássio aumenta a resistência da planta e melhora a qualidade dos frutos.
. Microelementos - manganês (Mn), zinco (Zn), cobre (Cu), ferro (Fe), molibdênio (Mo), boro (B) e cloro (Cl), exigidos em quantidades reduzidas, mas também muito importantes para as plantas.
   As quantidades de macroelementos encontradas disponíveis para as plantas no solo, quase sempre, são insuficientes. Daí a necessidade de complementá-los através de adubos orgânicos. A vida do solo depende essencialmente da matéria orgânica que mantém a sua estrutura porosa, proporcionando a vida vegetal graças à entrada de ar e água. A matéria orgânica é um dos componentes do solo e atua como agente de estruturação, possibilitando a existência de vida microbiana e fauna, além de adicionar nutrientes à solução do solo. O adubo orgânico é constituído de resíduos de origem animal e vegetal: folhas secas, restos vegetais, esterco animal e tudo mais que se decompõe, transformando-se em húmus. O húmus é o resultado da ação de diversos microorganismos sobre os restos animais e vegetais.
O uso da matéria orgânica interfere significativamente na resistência das plantas, uma vez que:
aumenta a capacidade do solo em armazenar água, diminuindo os efeitos das secas. Um solo com bom teor de matéria orgânica funciona como se fosse uma esponja, sendo que 1 g de matéria orgânica retém 4 a 6 gramas de água no solo. Devido à capacidade de armazenar água, a matéria orgânica é má condutora de calor, diminuindo as oscilações de temperatura do solo durante o dia;
aumenta a população de minhocas, besouros, fungos e bactérias benéficas, além de vários outros organismos úteis, que estão livres no solo;
aumenta a população de organismos úteis que vivem associados às raízes das plantas, como as bactérias fixadoras de nitrogênio e as micorrizas, que são fungos capazes de aumentar a absorção de nutrientes do solo;
aumenta a capacidade das raízes absorverem minerais do solo;
possui macro e micronutrientes em quantidades bem equilibradas, que as plantas absorvem conforme sua necessidade, em quantidade e qualidade;
é fundamental na estruturação do solo, por causa da formação de grumos. Isso aumenta a penetração das raízes e a oxigenação do solo;
possui substâncias de crescimento (fitohormônios), que aumentam a respiração e a fotossíntese das plantas.
   A adubação orgânica melhora também a qualidade dos alimentos, tornando-os mais ricos em vitaminas, aminoácidos, sais minerais, matéria seca e açúcares, além de serem mais aromáticos, saborosos e de melhor conservação.
Entre as espécies cultivadas, as hortaliças são as que mais respondem à aplicação de adubos orgânicos. O adubo orgânico de origem animal mais conhecido é o esterco que é formado por excrementos sólidos e líquidos de animais e pode estar misturado com restos vegetais. O esterco curtido de aves ou a cama de aviário e de gado são os mais comumente utilizados. Tanto o excesso como a falta de nutrientes são prejudiciais às plantas, pois um nutriente pode interferir na absorção dos demais.
   É importante lembrar que plantas bem nutridas são mais resistentes às doenças e às pragas. O ideal na adubação de hortaliças é o uso de composto orgânico, considerado o processo mais eficiente para produção de adubo orgânico de qualidade. A compostagem é o resultado da transformação, através da fermentação, do resíduo orgânico (restos vegetais) em adubo natural. É um dos princípios básicos da produção orgânica de alimentos. O composto é rico em húmus estabilizado e em microorganismos ativos que estimulam a saúde natural das plantas.
   Todos os passos para fazer, bem como os cuidados que se deve ter no preparo do composto orgânico, estão descritos em matéria já postada neste blog.
   O adubo orgânico, quando oriundo de esterco de animais não curtido, deve ser bem incorporado ao solo, 15 dias antes da semeadura/plantio. O uso de esterco ainda em fase de fermentação por ocasião da semeadura/plantio, pode causar danos às raízes e às sementes, tais como queima, destruição dos microorganismos do solo, formação de produtos tóxicos e morte da planta pelo calor. O conhecimento da origem do esterco, especialmente o de gado, é importante, pois o uso de alguns herbicidas nas pastagens pode afetar as plantas cultivadas.
Na falta de análise do solo, indica-se para solos de média fertilidade, anualmente, a seguinte adubação:
. adubação orgânica, proveniente de compostagem - 3 a 4 kg/m2 
. esterco de gado (4 a 5 kg/m2 ) ou de aves (1 a 2 kg/m2 ) curtidos    .
No caso de maior necessidade de potássio, cálcio e magnésio, recomenda-se cinzas de madeira não tratada com produtos químicos. Como fonte de fósforo, recomenda-se o fosfato natural, o fosfato de araxá, os termofosfatos e a farinha de ossos, aplicados com antecedência e de acordo com a análise de solo.
.Sistemas de semeadura/plantio
   Conforme a espécie de hortaliça, pode-se ter diferentes sistemas de semeadura/plantio.
.Semeadura direta: consiste na semeadura uniforme das sementes em sulcos, no canteiro, na profundidade de 1 a 2cm, utilizando-se marcadores ou sacho, cobrindo-as com a própria terra; pode ser feita também em covas ou em sulcos, sem preparo de canteiros. A quantidade de sementes por metro quadrado varia com o tamanho do canteiro; quanto menor, menos sementes serão gastas. Como regra geral, as sementes devem ficar enterradas numa profundidade de cinco vezes o seu tamanho.

.Plantio direto: consiste no plantio de tubérculos, raízes, rizomas, bulbilhos, ramas, filhotes e estolhos em sulcos, em covas, ou em camalhões, na profundidade de 5 a 10 cm, utilizando-se enxada ou sacho, no espaçamento indicado para cada espécie; pode ser feito também em sulcos, ou em covas, diretamente no canteiro.


Figura 1. Terreno preparado para o plantio de ramas de batata-doce no alto da leira

.Transplante de mudas: consiste na mudança das plantas que cresceram na sementeira ou em recipientes, para o local definitivo em sulcos ou em covas, enterrando-as até à profundidade em que estavam na sementeira ou em recipiente, no espaçamento indicado para a espécie. Deve ser feito, preferencialmente, em dias nublados ou à tardinha para garantir melhor pegamento, principalmente no verão.
   No caso de sementeiras em canteiros ou em caixas, uma irrigação abundante antes do transplante facilita a retirada das mudas. Quando as mudas são produzidas em copinhos ou em bandejas o pegamento é maior, pois a maioria das raízes estão intactas no torrão formado nesses recipientes. Para retirá-las da bandeja basta umedecer um pouco e bater de leve no fundo.

Figura 2. Transplante de mudas de couve-brócolis

. Plantio direto e cultivo mínimo
   O sistema de plantio direto e cultivo mínimo são práticas importantíssimas no cultivo orgânico de hortaliças, tendo em vista que a maioria dos nossos solos estão sujeitos a processos de erosão causado por chuvas intensas, aliado a baixos teores de matéria orgânica. Outra vantagem dessas práticas é o fato do solo estar sempre preparado para semeadura/plantio, mesmo em períodos chuvosos que não permite o revolvimento do mesmo devido a umidade excessiva. Para o plantio direto ou cultivo mínimo, bastar fazer uma roçada utilizando uma foice ou roçadeira manual para áreas maiores e abrir as covas ou sulcos.
  O plantio direto é um método que não revolve o solo. A camada de cobertura vegetal é mantida e se faz apenas a abertura de um pequeno sulco ou cova onde é colocada a semente ou a muda.
  O cultivo mínimo é a mínima manipulação do solo necessária para a semeadura ou plantio de mudas. Deixa-se uma considerável quantidade de cobertura na superfície (resíduos culturais), o que desfavorece a erosão do solo.

 Efeitos da adoção dos sistemas plantio direto e cultivo mínimo nas propriedades do solo visando a produção de hortaliças orgânicas.

Figura 3. Cultivo mínimo (abertura de sulco) sobre aveia-preta semeada no outono

Figura 4. Cultivo mínimo do tomateiro sobre cobertura de aveia+ervilhaca+nabo forrageiro

Figura 5. Cultivo mínimo de aipim sobre cobertura de aveia e ervilhaca

 . Práticas culturais
   Para que as hortaliças tenham bom desenvolvimento, é necessário realizar diversos tratos culturais na época adequada.
 . Espécies de plantas de cobertura do solo e adubação verde
   As plantas de cobertura exercem importante papel na conservação do solo, no suprimento de nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio, no equilíbrio das propriedades do solo e, principalmente, no manejo de plantas espontâneas. As plantas de cobertura são a garantia de continuidade da vida. Para existir vida no solo, princípio básico para produção de alimentos, o terreno deverá ser suprido continuamente de alimento (matéria orgânica e outros nutrientes, além do ar e da água) para que os bilhões de seres vivos que ali se encontram possam interagir química e fisicamente para melhorar a estrutura do solo, disponibilizando nutrientes essenciais para as culturas.
  A adubação verde é uma das formas mais importantes de adubação orgânica do solo. Consiste no cultivo de algumas espécies de plantas que, ao serem incorporadas ou derrubadas no solo, fornecem matéria orgânica, servindo ainda como cobertura do solo, evitando a erosão. Além disso, podem fornecer nitrogênio, funcionam como subsoladores naturais do solo, pois suas raízes atingem diferentes profundidades trazendo nutrientes do fundo até à superfície, facilitando assim a nutrição das plantas. Funcionam como verdadeiros descompactadores do solo permitindo a entrada de ar e de água de maneira adequada no solo. 
   Atualmente, une-se o uso de plantas de adubação verde e de plantas de cobertura de solo com objetivo de promover benefícios significativos para a agricultura orgânica, aliado ao uso de sistemas de rotação, sucessão e consorciação de culturas, plantio direto, cultivo mínimo, uso de adubação orgânica e outros princípios. As plantas da família botânica das leguminosas, encontradas em grandes diversidades de clima e solo, são consideradas ótimas para adubação verde por serem ricas em nitrogênio e possuírem raízes ramificadas e profundas. A mucuna cultivada isoladamente ou em consorciação com milho-verde é um exemplo de espécie de adubação verde e de cobertura do solo. O coquetel de adubos verdes (aveia -60 kg/ha; ervilhaca -18 kg/ha e nabo forrageiro – 4 kg/ha) é também uma ótima opção para melhorar a cobertura do solo, promover o efeito benéfico no manejo de plantas espontâneas e aprimorar a eficiência na ciclagem de nutrientes (fornecendo nitrogênio e reciclando nutrientes) e na descompactação do solo.
Figura 6. Desenvolvimento inicial de brássicas sobre cobertura de aveia + ervilhaca+ nabo forrageiro

 Figura 7. Desenvolvimento vegetativo do milho-verde orgânico sobre cobertura de aveia + ervilhaca+ nabo forrageiro

Os principais benefícios da adubação verde são:
. Físicos – redução do impacto das gotas de chuva, melhor estrutura do solo, maior retenção de água e menor variação da temperatura no solo;
. Químicos - aumento do teor de húmus no solo, enriquecimento de nutrientes (poupança verde) e maior disponibilidade e movimentação de nutrientes. Devido ao sistema radicular profundo de algumas plantas utilizadas como adubo verde, é feito uma reciclagem dos nutrientes já lixiviados e perdidos nas camadas profundas;
. Biológicos - aumento na atividade de microorganismos, no manejo de ervas espontâneas e no uso da alelopatia e, favorecimento às atividades da fauna do solo (minhocas).

. Cobertura morta
   Essa prática consiste na colocação de capim ou palha seca (5 a 10cm) e outros materiais como bagaço de cana nas entrelinhas das hortaliças cultivadas em espaçamentos maiores. A cobertura morta mantém a superfície do solo sem a formação de crosta (superfície endurecida), evita a evaporação da água da chuva ou da irrigação, reduz a erosão em solos inclinados, diminui a temperatura do solo no verão e, principalmente, economiza capinas devido à menor incidência de plantas espontâneas. Trabalhos de pesquisa evidenciam que, dependendo da cobertura morta, é possível reduzir a temperatura do solo em até 10ºC, quando comparado ao solo descoberto. Resíduos vegetais em decomposição não devem ser aplicados, pois a sua fermentação é prejudicial às plantas.
Figura 8. Cobertura morta com casca de arroz no cultivo orgânico de morango na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, SC,

 Figura 9. Cultivo orgânico de repolho em cobertura de palha de milho na Estação Experimental de Urussanga


Figura 10. Cultivo orgânico de couve-flor sobre cobertura de palha de arroz na Estação Experimental de Urussanga





quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Arruda (Ruta graveolens) as plantas curam



Ruta graveolens

A arruda é conhecida popularmente como a planta que espanta o mal olhado, também é utilizada na sabedoria popular para provocar o aborto, fazendo descer a menstruação.
Descrição : Planta da família das retaceas, também conhecida como arruda doméstica, arruda de jardins, arruda fedorenta e ruta-de-cheiro-forte.

Trata-se de uma arbustiva muito cultivada em vasos e jardins de todo mundo, devido a suas flores de aroma forte.

Tem consistência lenhosa, de caule ramificado desde na base.

Atinge de 40 à 60 centímetros de altura, granulosa e de coloração verde amarelada.

Possui pequenas folhas verde cinzentas compostas, alternadas, pecioladas, carnudas, glaucas, bracteadas e divididas em segmentos como lobos iguais.

Suas flores são verde amarelada com frutos capsulares e sementes rugosas.

O fruto é capsular, de quatro ou cinco lobos, salientes e rugosos, abrindo-se superior e inteiramente em quatro ou cinco valvas.

Partes utilizadas : Folhas e Flores.

Origem : Sul da Europa

Propriedades : analgésica, béquica, emoliente e anti-helmíntica, indicada nos casos de supressão da menstruação, por seu efeito emenagogo.

Também possui efeitos abortivos.

Indicações :

Para que serve a arruda.

É empregada como emplasto no peito para combater a tosse.

É muito usada para combater piolhos e coceiras.

Cuidados : A planta tem um potencial terapêutico muito grande, mas seu uso interno deve ser alicerçado em formulações estandardizadas e com acompanhamento clínico, devido a sua grande toxidade.

"Durante a gravidez, a arruda tem efeito especial sobre o útero: ela congestiona este órgão, estimula dores musculares, provoca-lhes a contração, ocasiona uma hemorragia grave, às vezes o aborto e a morte.

Acrescentamos que o aborto é raro e que a administração dessa substância com um fim criminoso pode acarretar morte sem que haja parto."

Princípios Ativos :

Rica em arborina, arborinina, egama-fagarina;

alcaloides nas raízes: acridonas - rutacridona e hidroxirutacridona;

Outros alcaloides: graveolina, graveolinina, kokusaginina, rutacridona, e esquimianina.

Flavonoides: rutina, óleo volátil: nonilcetona metílica, cetonas, ésteres, efenóis; furocumarinas: bergapteno, psoraleno, xanloxanlina, xantotoxina, isopimpinelina, e rutamarina; a hexo-dehydrochalepina foi sintetizada a partir da rutamarina.

A substância chamada rutina é a responsável pelas principais propriedades da arruda. Ela é usada para aumentar a resistência dos vasos sanguíneos, evitando rupturas e, por isso é indicada no tratamento contra varizes.

Muito usada na medicina popular para aliviar dores de cabeça e, segundo os especialistas, isso pode ser explicado porque ela apresenta um óleo essencial que contém undecanona, metilnonilketona e metilheptilketona. Todas essas substâncias possuem propriedades calmantes e, ao serem aspiradas, aliviam as dores e diminuem a ansiedade.

História :

Desde a antiga Grécia, era usada para afastar doenças contagiosas, mais seu ponto forte era ser usada contra o mal olhado. A arruda é citada em muitas obras clássica, como William Shakespeare, na obra Hamlet, se refere à arruda como sendo "a erva sagrada dos domingos". Dizem que ela passou a ser chamada assim, porque nos rituais de exorcismo, realizados aos domingos, costumava-se fazer um preparado à base de vinho e arruda que era ingerido pelos "possessos" antes de serem exorcizados pelos padres.

No Brasil colônia os escravos africanos usavam-na contra mau-olhado. Numa famosa pintura intitulada "Viagem Histórica e Pitoresca ao Brasil, o artista Jean Debret retrata o comércio da arruda realizado pelas escravas africanas.

O galho de arruda era vendido como amuleto para trazer sorte e proteção. E não eram apenas as escravas que usavam os galhinhos da planta ocultos nas pregas de seus turbantes - as mulheres brancas colocavam o galhinho estrategicamente escondido nos seios. Outro fator teria reforçado o valor da arruda naquela época: a infusão feita com a planta era usada como uma espécie de anticoncepcional e abortivo.

Nas cerimônias da igreja católica, no início da era cristão, fazia raminhos de arruda para espargir água-benta nos fiéis. Nessa época acreditava-se que as bruxas só poderiam ser destruídas com grandes poderes como o do fogo - a arruda reafirmou sua fama, pois seus ramos eram usados como proteção contra as feiticeiras.

Há séculos, divulga-se que a planta apresenta propriedades muito ligadas ao desejo sexual masculino e feminino, mas de formas diferentes: seria um anafrodisíaco (ou antiafrodisíaco) para os homens e um excitante para as mulheres.

Ainda não foi possível comprovar a veracidade dessas indicações, entretanto, nos escritos (datados de 1551) de Hieronymus Bock, considerado um dos primeiros botânicos da história, havia a recomendação para que monges e religiosos ingerissem a arruda, misturada aos alimentos e às bebidas, para garantir a pureza e castidade. A verdade é que esta planta era realmente muito abundante nos jardins dos mosteiros.

Modo de Conservar : A planta inteira florida deve ser seca ao sol, em local ventilado e sem umidade. Guardar em sacos de papel ou de pano.

Plantio - Veja como plantar e cuidar de seu pezinho de arruda.

Multiplicação: Por estaquias (mudas) e sementes; em locais quentes e ensolarados. A arruda se dá muito bem em solos levemente alcalinos, bem drenados e ricos em matéria orgânica.

Cultivo: Prefere solos secos e orgânicos, desenvolve-se em qualquer clima. É exigente em irrigação e adubação orgânica. Produz-se mudas com estacas dos ramos e depois de 2 ou 3 meses planta-se no local definitivo em espaçamento de 0,5 metro entre plantas em fileiras de 1 metro entre elas. A adubação orgânica deve ser feita nos sulcos ou nas covas 15 dias antes do plantio;

Colheita: A colheita deve ser feita na floração, colhem-se os ramos com folhas verdes (existe a arruda "macho" e a "fêmea" de folhas menores).

Toxicologia: Os extratos revelaram positividade em testes experimentais de mutagenicidade, mas a importância clínica deste resultado não foi estabelecida. A toxicidade das folhas secas é provavelmente menor do que aquela das folhas frescas por causa da perda do óleo volátil. Uma tintura de R. graveolens exibiu uma fotomutagenicidade marcante de grau variável, baseados nas várias concentrações de alcaloides presentes na solução.

Grandes doses (mais de 100mL de óleo ou aproximadamente 120g de folhas em 1 única dose) podem causar uma dor gástrica violenta, vômito, e complicações sistêmica, incluindo a morte. Uma única dose oral de 400 mg/kg administradas às cobaias foi relatada ser fatal, causando hemorragias das glândulas adrenais, do fígado, e do rim. Porém uma dose oral diária de 30 mg administrada por 3 meses a voluntários humanos não resultou em uma função hepática anormal.

Contra indicação e cuidados : Na gestação e na lactação é contraindicada em ambos os casos. Não deve ser ingerida por mulheres em idade fértil, gravidez, lactação, crianças, idosos, pessoas sensíveis.

Efeitos colaterais: O efeito antispasmódico ocorre em doses relativamente pequenas, o planta somente deve ser usada com acompanhamento de profissional gabaritado.

As furocumarinas foram associadas com uma fotossensibilidade, resultando em bolhas na pele após o contato com a planta seguida por exposição solar. Isso ocorre em pessoas que coletam a arruda fresca e também foi relatado em pessoas que esfregaram a arruda fresca na pele como um repelente de insetos. O óleo volátil é irritante, podendo resultar em danos renais e degeneração hepática se ingerido.




arruda
arruda - flores arruda arruda
Superdosagem: Acima de 1 g em uso interno.

Farmacologia:

O óleo tem um gosto amargo forte e foi usado para o tratamento de parasitas intestinais. O extrato da arruda é potencialmente útil como um bloqueador do canal de potássio.

Tem sido usado para tratar muitos problemas neuromusculares e para estimular a menarca. Devido ao efeito antiespasmódico em doses relativamente baixas, a arruda não deve ser usada em manipulações caseiras. A planta da arruda e seus extratos, em particular o chá e o óleo, possuem efeitos antiespasmódicos nos músculos lisos.

Esta ação farmacológica foi atribuída aos alcaloides arborina e a arborinina e as cumarinas, particularmente a rutamarina. Enquanto a meia-vida farmacológica da arborinina é similar àquela da papaverina, a meia-vida da rutamarina é aproximadamente 20 vezes maior. Estes efeitos espasmolíticos lambem foram observados no músculo liso gastrointestinais isolado.

Dieta  de 21 dias

O extrato da R. graveolens foi estudado como um potencial bloqueador de correntes iônicas pelo canal de potássio em células nervosas mielinizadas. Os efeitos abortivos do chá e de óleo da arruda são bem documentados.

O efeito abortivo pode ser causado por uma ação antimplantação ou por um estado generalizado de toxicidade sistêmica resultando na morte do feto. Mais de 15 compostos possuem atividade antibacteriana e antifúngica in vitro.

Os alcaloides do tipo acridona são os compostos antimicrobiais mais potentes, as cumarinas somente inibem o crescimento bacteriano em doses elevadas. O óleo essencial e os flavonoides testados não mostraram nenhuma atividade.

Outros investigadores encontraram que vários componentes da arruda interagem diretamente com o maquinário celular de replicação do DNA, assim impedindo a propagação de alguns vírus. A folha da arruda é dita aliviar o câncer da boca, assim também como tumores e verrugas. Na medicina chinesa, a arruda é usada como um vermífugo e para mordida de insetos.

Resultados de estudos em animais: Um estudo relata que o efeito do espasmódico da arborinina no músculo coronário do porco é tão potente quanto aquele produzido pela papaverina, enquanto a rutamarina mostrou ser 20 vezes mais eficaz do que a papaverina. Os efeitos antiespasmódicos destes compostos lambem foram reversíveis. Uma ação antifertilidade da R. graveolens foi relatada em ratos. Em 1 relatório, a chalepensina identificada como o componente ativo, aluando na fase inicial da gravidez.

Resultados de estudos clínicos A arruda foi usada para tratar muitas doenças, incluindo a epilepsia, o cansaço visual, a esclerose múltipla, a paralisia de Bell, e as condições cardíacas. Foi usada também como um estimulante uterino para promover o início da menstruação





sábado, 3 de fevereiro de 2018

Cultivo de Hortaliças Orgânicas (parte 1)



Para produção de hortaliças de boa qualidade, saudáveis, de forma diversificada, sem agrotóxicos e adubos químicos e, especialmente, sem colocar em risco a saúde do homem, do meio ambiente e das futuras gerações, deve-se seguir algumas recomendações. As recomendações específicas para o cultivo orgânico de batata, cebola, tomate, cenoura, alface, beterraba, repolho, couve-flor, couve, brócolis, batata-doce e planta medicinais estão em postagens mais antigas neste blog. Por isso, a seguir abordaremos as indicações gerais para o cultivo das diversas espécies de hortaliças.

. Correção e preparo do solo
   A acidez do solo influi na fertilidade, tornando os nutrientes essenciais indisponíveis às plantas. Para correção aplica-se calcário, de acordo com a análise do solo; em geral, para terrenos ácidos utiliza-se cerca de 0,5 a 1 kg de calcário por m², com antecedência mínima de três meses da semeadura/plantio. Caso seja utilizado o composto orgânico, a acidez do solo é corrigida naturalmente, sem necessidade de calagem.
    A adubação orgânica melhora a fertilidade do solo e as propriedades físicas dos solos muito argilosos (barrentos) ou arenosos. Para terrenos de baixa ferrtilidade, com baixa percentagem de matéria orgânica (menos de 2%), determinada pela análise do solo, recomenda-se a aplicação, preferencialmente, de composto orgânico (3 a 4kg/m2) ou esterco curtido de aves ou de gado, na quantidade máxima de 2 e 5 kg/m² por ano, respectivamente.
    O resíduo orgânico e/ou restos de culturas, também pode se tornar um adubo de ótima qualidade através da compostagem.
Para pequenas hortas recomenda-se após aplicação do calcário, quando necessário, e do adubo orgânico, fazer o revolvimento do solo com enxadão ou pá, na profundidade mínima de 20 cm, com posterior destorroamento com enxada.

Figura 1. Revolvimento do solo com pá


. Preparo do canteiro
  Para algumas espécies cultivadas em espaçamentos maiores, basta revolver e destorroar o solo. Em seguida, deve-se abrir as covas, sulcos ou ainda fazer camalhões ou leiras, adubar e plantar, conforme o sistema de cada cultura.
Algumas hortaliças necessitam de preparo especial do terreno para confecção de canteiros que podem servir como sementeira para posterior transplante de mudas e para semeadura direta/plantio.
    Após o revolvimento do solo, os canteiros são levantados e destorroados com enxada. Deve-se evitar preparar o canteiro quando o solo estiver muito seco ou muito úmido. 
Para preparo adequado do canteiro recomenda-se: 
. Fazer dois sulcos paralelos de 15 a 20cm de profundidade, com 30 a 40 cm de largura, e distanciados de 1 a 1,2m, utilizando-se cordões ou bambu para alinhamento; 
. Com auxílio de ancinho (rastelo) faz-se o nivelamento da terra e retira-se os torrões menores, raízes, pedras e outros materiais;
. Com a pá curva faz-se o acabamento, limpando-se a passagem entre os canteiros. 
   Os canteiros depois de prontos ficarão com cerca de 1m de largura, 15 a 20cm de altura e separados por 30 a 40 cm entre si, para facilitar a passagem das pessoas que cuidarão da horta. Entre cada série de canteiros deve-se deixar um caminho (1m) para passagem do carrinho de mão, usado para transporte de adubos, estercos e produtos colhidos. 
Em terrenos inclinados, os canteiros devem ficar atravessados em relação à declividade para evitar que as águas das chuvas os destruam.

Figura 2. Preparo de canteiro


Figura 3. Canteiro preparado para semeadura


   Sempre que possível recomenda-se canteiros fixos, feitos especialmente com tijolos ou pedras (maior durabilidade), madeira (Figura 4), bambú e com outros materiais, pois evita a erosão e facilita o preparo do mesmo para novos plantios.

Figura 4. Horta orgânica do CAPS – Centro de Atenção Psicossocial, em Urussanga, com canteiros construídos com madeira


. Época de semeadura/plantio
    De um modo geral, as hortaliças encontram as melhores condições de desenvolvimento e produção quando o clima é ameno (18 a 22ºC), com chuvas leves e frequentes.
     As temperaturas elevadas (mais de 30ºC), de um modo geral, encurtam o ciclo das plantas e aceleram a maturação; as baixas temperaturas (menos de 10ºC) retardam o crescimento, a frutificação, a maturação e favorecem o florescimento indesejável.
    O fotoperíodo (número de horas com luz natural por dia) e a temperatura influem na formação e no desenvolvimento de bulbos (cebola e alho) e de tubérculos (batata).
Obs.: na matéria sobre planejamento de uma horta orgânica (parte I) foi postada uma tabela com informações de épocas de semeadura ou plantio para as principais hortaliças. O livro "Cultive uma horta e um pomar orgânicos...", disponível para venda na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, também possui estas e muitas outras informações importantes.
. Produção de mudas
   O transplante de mudas sadias e vigorosas garante a produção de hortaliças de boa qualidade. Algumas lojas agropecuárias dispõem de mudas de hortaliças, em bandejas de isopor. As diversas formas de produção de mudas são descritas a seguir.
Sementeira
É o local onde são semeadas as sementes de algumas hortaliças para obter-se as mudas a serem transplantadas.

Figura 5. Sementeira de cebola


Os cuidados mais importantes para produção de mudas em sementeira são:
. Preparo cuidadoso do canteiro, incorporando com antecedência, esterco bem curtido e peneirado de aves e de gado, na quantidade de 2 ou 5 kg/m², respectivamente;
. Fazer sulcos com 1 a 2cm de profundidade, distanciados de 10 cm, utilizando o sacho ou marcador de sulcos;
. Semear o mais uniforme possível, cobrindo as sementes com terra. De maneira geral, deve-se enterrar a semente numa profundidade aproximadamente igual a cinco vezes o seu tamanho;
. Cobrir a sementeira com saco de aniagem, capim seco ou tela de sombrite para evitar a formação de crosta superficial do solo devido à irrigação ou à ocorrência de chuvas torrenciais, retirando a proteção quando as sementes iniciarem a emergência;
. Outra opção é a cobertura da sementeira com cerca de 1cm de espessura de casca de arroz ou serragem, após a semeadura. Neste caso, não há necessidade de se retirar a cobertura após a emergência;
. Em períodos sem chuvas, no verão, regar duas vezes ao dia (manhã e à tardinha) até à emergência, com regador de crivo fino para não enterrar demais as sementes;
. A utilização de cobertura de plástico no inverno, associado ao sombrite no verão são indicados;
. Eliminar as plantas espontâneas à medida que forem aparecendo;
. Desbaste do excesso de plantas, deixando as mais vigorosas.

Figura 6. Tipos de cobertura da sementeira: sombrite, casca de arroz e serragem  (Foto:Valmir José Vizzotto)


                             Figura 7. Produção de mudas no verão com o uso de plástico e sombrite 


Caixas, copinhos, bandejas de isopor e outros recipientes
     Na produção de mudas para a horta pode ser utilizado diversos recipientes. A vantagem do uso de recipientes sobre a sementeira em canteiro é a facilidade de movimentação dos mesmos para locais protegidos, evitando-se o sol quente, chuvas torrenciais e o frio intenso.
A sementeira pode ser feita em caixas com 50 x 50cm de lado e 20 a 25cm de profundidade, fazendo-se alguns furos no fundo para escoamento do excesso de água.

Figura 8. Sementeira de alface em caixa


    A semeadura também pode ser feita, preferencialmente em copinhos de jornal (sem impressão colorida) ou de papel pardo, pois se degradam rapidamente e não oferecem riscos ao meio ambiente.
Confecção: corta-se uma folha de jornal em cinco tiras, no sentido horizontal da página, com cerca de 11,5 cm de largura cada uma; no caso de utilizar-se o papel pardo deve-se cortá-lo em tiras de 11,5 cm de largura por 38 cm de comprimento. Enrola-se as tiras em torno de um cano de PVC (50mm) com 7cm de comprimento. A extremidade do cilindro de papel é dobrada para dentro, de modo a formar o fundo do copinho. Finalmente, bate-se o fundo do cano de modo a comprimir as dobras do fundo do molde. Posteriormente, enche-se o cano com substrato e retira-se o mesmo para confecção de outros copinhos. Uma vez prontos, os copinhos apresentam as medidas de 7cm x 6cm e capacidade de aproximadamente 200cm3.

Figura 9. Material necessário para confecção dos copinhos de papel


 Figura 10. Confecção de copinho de jornal- início


 Figura 11. Confecção de copinho de jornal - final


Os copinhos plásticos, utilizados para refrigerantes e reutilizados na produção de mudas, fazendo-se alguns furos no fundo, é outra opção. No entanto, é importante ressaltar que o plástico leva muitos anos para se degradar, sendo por isso utilizado somente quando não houver outra alternativa.

Figura 12. Copinhos plásticos para refrigerantes reutilizados


   O sistema mais utilizado atualmente é o de bandeja de isopor, que manuseada com cuidado pode ser reutilizada várias vezes.
A vantagem da bandeja de isopor e dos copinhos sobre a sementeira em canteiro e em caixa, é que a muda não sofre nenhum dano ao ser transplantada.
  O substrato para encher os recipientes pode ser adquirido em lojas agropecuárias ou preparado em casa.

Preparo do substrato caseiro:
-3 partes de terra peneirada livre de plantas espontâneas;
-1 partes de cama de aviário curtida e peneirada;
-1 parte de areia fina de rio ou 2 partes de casca de arroz carbonizada.
Obs.: misturar bem as diferentes partes.

Figura 13. Enchimento da bandeja de isopor com substrato caseiro


Figura 14. Produção de mudas de hortaliças em bandejas de isopor